Sabiá-do-barranco

"Vou voltar, sei que ainda vou voltar para o meu lugar
Foi lá e ainda láQue eu hei de ouvir cantar uma Sabiá...
Vou voltar,

sei que ainda vou voltar e é pra ficar
Sei que o amor existe

E eu não sou mais triste
Que a nova vida já vai chegar

E que a solidão vai se acabar
Hei de ouvir cantar uma Sabiá...”

Chico Buarque e Tom Jobim

Na primavera passada estive na fazenda de uma irmã há 130 km de Goiânia, onde fui passar um final de semana.
Ficava um bom tempo ali na varanda e comecei a notar que um pássaro pousava na calçada várias vezes ao dia. Era um sabiá-do-barranco pela cor parda se não me engano, porque o sabiá não é um só, são muitos.

As vezes chegava bem perto, mas depois voltava para dentro de um arbusto, usado como cerca viva que ornamentava a entrada da casa.
Era esse, o arbusto da esquerda o mais alto em primeiro plano.
Aproximei-me e vi que algo se movia em seu interior. Então imaginei que ali poderia estar um ninho e que o passarinho era uma sabiá. Aproximei-me com a câmera mas ela assustada, voou.

Mais tarde notei que já estava de volta. Jogávamos sementes, insetos e até uma minhoca que ela se serviu. Já estava mansa. Fotografei sua visita, agora mais próxima de mim

Foi quando no dia seguinte resolvi me aproximar mais e ousei olhar por entre os galhos. Aos poucos me aproximei com cuidado e eis que encontro um ninho e dentro ela estava ali acomodada chocando. A emoção tomou conta de mim por alguns minutos, mas a sabiá por certo ainda temerosa por alguma invasão em seu ninho, ficou quieta como a proteger seus ovos.

Consegui até que enfim vê-la quase por inteiro. O ninho é construído utilizando gravetos, fibras vegetais e barro.

Mais tarde ela saiu talvez para se alimentar. E corri para olhar lá dentro e vi pela primeira vez.Três ovos azuis com manchas de cor ferrugem.

Infelizmente meu final de semana acabou e tive que vir para casa, mas com o firme propósito de retornar na próxima para acompanhar mais essa história.

O sabiá habita paisagens abertas, parques, quintais arborizados, pomares, matas, cerrado e próximo a habitações rurais, podendo ser encontrado também em regiões serranas, e pode viver até os 30 anos de idade.

Inicia sua reprodução em agosto e estende até dezembro. Constrói um ninho apoiado em galhos ou forquilhas, às vezes em alpendres e varadas de casas.

O ninho é construído utilizando gravetos, fibras vegetais e barro. A postura é de 3 a 4 ovos em média, de cor esverdeada com pintas cor de ferrugem, e o período de incubação gira em torno de 12 dias. Os filhotes deixam o ninho após18 dias, porém continuam a ser alimentados pelos pais por mais uma semana

A semana demorou a passar até que voltei ansiosa para ver se houve algum desfecho.

E então os passarinhos já haviam nascido, imagino que logo depois que fui embora porque eles não tinham a aparência de recém-nascidos, pois haviam escurecido seu corpo com o engrossamento da pele que já mostrava algumas penugens.

Aí estão os filhotes. Ainda com os olhos fechados.Tirei as fotos no dia 28/09/07

Dois dias depois já se viam penugens e mais o aparecimento das penas das asas.

Nessa fase os pais alimentam os filhotes alternadamente, mas quando a mãe permanece no ninho para cuidar e aquecê-los, o pai alimenta a mãe o os filhotes.

Ou ele ficava por perto para fazer sentinela. Já tive notícias de que o casal usou esse mesmo ninho por várias vezes.

Para comparação colhi numa pesquisa um registro momentos após o nascimento dos filhotes. Dados dessa foto premiada aquí no TrekNature

Ouça → O canto do Sabiá

"MINHA TERRA TEM PALMEIRAS,
ONDE CANTA O SABIÁ,
AS AVES QUE AQUI GORJEIAM,
NÃO GORJEIAM COMO LÁ,
NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS,
NOSSAS VÁRZEAS TÊM MAIS FLORES,
NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA,
NOSSA VIDA MAIS AMORES."

Gonçalves Dias

Fotos: Elma Carneiro e Jose Reynaldo da Fonseca